Sites Grátis no Comunidades.net

 Dicas Úteis.


Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Google-Translate-Portuguese to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

Rating: 2.9/5 (969 votos)




ONLINE
2





 

          TEMPO 

  

 
Um só ato de amor feito numa fase de aridez vale mais do que cem em tempo de consolo.

  

Sites Diversos

  

 

 

 

 

Banner

 

    

 

 

 


Total de visitas: 661769
Linguagem e Comunicação Abr 11

Linguagem e Comunicação 

 

 

 

Há uma condição existencial especialíssima que nos distingue de todos os demais seres vivos: perguntamo-nos sobre aquilo que fazemos. Por isso, nosso “agir” é denominado “trabalho” (homo faber), porque é um ato da consciência (homo sapiens). Não apenas transformamos a matéria; também estabelecemos relações (homo culturalis), temos desejos, amamos e permanecemos em tensa liberdade, porque, no dizer de J. P. Sartre, somos condenados a fazer opções (homo volens). Ainda brincamos (homo ludens) e oramos (homo religiosus), porque somos capazes de transcender, de fantasiar, de imaginar, de superar metafisicamente a própria morte.

Todas as dimensões dessa múltipla, complexa e profunda condição humana se revelam pela linguagem. Por isso, o filósofo Heidegger afirmou que a linguagem é a revelação do Ser. Nossos corpos são bem mais que uma fantástica estrutura somática em funcionamento; nossos corpos são, sobretudo, comunicação. “Nós falamos na vigília e no sono. Falamos sempre, até quando não proferimos nenhuma palavra [...] Falamos ininterruptamente [...]. Dizendo isso, não se pretende afirmar apenas que o homem possui, ao lado de outras faculdades, também a de falar. Pretende-se dizer que propriamente a linguagem faz do homem o ser vivente que é enquanto homem” (M. Heidegger, A caminho da linguagem).

Somos seres relacionais e abertos à realidade que nos circunda. Por isso, nossa linguagem é comunicação. Queremos entender e sermos entendidos. Queremos compartilhar, compreender, dialogar. Queremos que comunique nosso jeito de vestir, de amar, de gesticular, de caminhar, de olhar, de falar, de ouvir. Dessa intencionalidade da linguagem é que nasce a Educação.

Educar é ensinar e aprender a dominar linguagens. Há linguagens amplas, que abrangem os valores, os costumes, as tradições, os hábitos e as práticas culturais; e há linguagens específicas e especializadas, que supõem o domínio de idiomas ou o controle formal de categorias científicas. Ao tratar da linguagem formal nas ciências, Wittegenstein (na obra Tractatus...) disse que “os limites de minha linguagem são os limites de meu mundo”. Assim, todo e qualquer “mundo formal”, ou área de conhecimento científico, supõe a plena apropriação e o domínio de uma linguagem própria, a ser ensinada e aprendida formalmente. Entretanto, há também uma Educação em sentido amplo, porque há “jogos de linguagens”, uma vez que na vida tudo é linguagem. Há, também, a exigência de criação de novas formas de linguagem – como é o caso, por exemplo, da escrita braile e a língua de sinais (libras) -, em razão do direito de inclusão de todos à comunicação.

Para a linguagem se fazer ‘inter-locução’, é preciso que haja meios de comunicação, dos mais simples aos mais complexos e recentes. A criação de todos os meios de comunicação exigiu sempre um árduo empenho civilizatório, mesmo para a criação daqueles meios pré-linguísticos, de remota idade. Para que a fumaça se tornasse uma linguagem entre comunidades distantes, foi necessário primeirodomesticar o fogo; para que o pombo-correio carregasse uma mensagem, antes foi preciso um lento processo de domesticação de alguns animais.

Chegamos, enfim, à criação da internet e às recentes redes sociais de comunicação. Os meios se multiplicam a cada dia, trazendo consigo novos avanços e novos desafios à comunicação. Meios são artefatos, ou tecnologias, resultantes da ciência. Para bem dominá-los é preciso de aprendizagem, exercício, empenho. Possuem uma força poderosíssima, com grande impacto social. Influenciam mentes e corações, produzem desejos e repulsas, incitam ao consumo ou à sobriedade, criam hábitos e novos modos de viver o tempo, instalam outras possibilidades de relacionamento ou de isolamento, podem ser instrumentos eficazes para a felicidade ou perigosas armas de exploração infantil, de roubo ou de incitamento à violência.

Por tudo isso, mais uma vez, é preciso revisitar a distinção entre os “meios” e os “fins”. A razão do meio é estar a serviço do fim. O objetivo teleológico e ético dos Meios de Comunicação é estar a serviço da linguagem que comunica, que revela o Ser, que nos faz ser gente, que nos torna humanamente melhores, que é ponte de união e de paz entre os povos, que constrói felicidade, que assegura a construção do projeto civilizatório. Recordamo-nos, aqui, da Carta Apostólica do saudoso João Paulo II, dirigida aos responsáveis pelas Comunicações Sociais, intitulada O Rápido Desenvolvimento (Il RapidoSviluppo). Dizia o papa que aos Meios de Comunicação Social impõem-se três opções fundamentais: a formação, a participação e o diálogo.

“Em primeiro lugar, é preciso uma vasta obra formativa para fazer com que os meios de comunicação sejam conhecidos e usados consciente e devidamente. As novas linguagens por eles introduzidas modificam os processos de aprendizagem e a qualidade das relações humanas e, por isso, sem uma formação adequada corre-se o risco de que eles, em vez de estarem a serviço das pessoas, cheguem a instrumentalizá-las e condicioná-las inadequadamente. Isso vale de modo especial para os jovens que manifestam uma propensão natural para as inovações tecnológicas, e também por isso têm necessidade ainda maior de serem educados para a utilização responsável e crítica dos meios de comunicação.

Em segundo lugar, quero chamar atenção [dizia João Paulo II] sobre o acesso aos meios de comunicação e sobre a participação co-responsável na sua gestão. Se as comunicações sociais são um bem destinado a toda a humanidade, são encontradas formas sempre atualizadas para tornar possível uma participação ampla na sua gestão, também através de oportunas providências legislativas. É preciso fazer crescer a cultura da co-responsabilidade.
Por último, não são esquecidas as grandes potencialidades que os meios de comunicação têm para favorecer o diálogo, tornando-se veículos de conhecimento recíproco, de solidariedade e de paz. Eles são um recurso positivo poderoso, se postos a serviço da compreensão entre os povos; uma ‘arma’ destrutiva, se usados para alimentar injustiças e conflitos [...]”.

Por isso tudo, uma Semana de Comunicação que agora vai se realizar na PUC Goiás é muito mais que um evento acadêmico. É um tempo propício, especial, fecundo e singular para pensar sobre novas formas de linguagem que comuniquem para a justiça, a paz e o perdão... um “novo mundo possível”!

*Wolmir Therezio Amado é reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás