Sites Grátis no Comunidades.net Criar uma Loja Virtual Grátis

 Dicas Úteis.


Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Google-Translate-Portuguese to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

Rating: 2.9/5 (969 votos)




ONLINE
1





 

          TEMPO 

  

 
Um só ato de amor feito numa fase de aridez vale mais do que cem em tempo de consolo.

  

Sites Diversos

  

 

 

 

 

Banner

 

    

 

 

 


Total de visitas: 661770
Viajantes do futuro/Mai 2011

Viajantes do futuro e os tempos de mudança

Wolmir Amado

“Não estou conseguindo acompanhar tanta mudança! Quando acho que aprendi e incorporei as novidades, outras tantas já surgiram”. Essa constatação, no passado feita apenas por idosos, ouvi de alguém muito jovem. A velocidade e a irreversibilidade inusitada das mudanças, hoje, impactam sobre todas as gerações e idades. A rapidez produz o obsoleto e o descartável, o superado e o desatualizado. Para onde vamos com tanta pressa? Estamos ficando melhores com tantas e tão rápidas mudanças?
Há mudanças que proporcionaram grandes avanços positivos. Na Educação, quando a comparamos com as práticas escolares do passado, vemos que hoje há novos processos de ensino-aprendizagem, mais eficazes e prazerosos; há nova relação entre professor e aluno, mais dialogal e colaborativa; há novas práticas pedagógicas, mais holísticas e com melhores resultados. Na ciência e na tecnologia, os avanços proporcionam a longevidade, o conforto e a melhor qualidade de vida. Na política, os regimes se aperfeiçoam, a democracia se globaliza e a representatividade pública é mais cobrada e fiscalizada.
Há mudanças carregadas de contradição. Como tudo já nasce descartável, é crescente o esgotamento dos recursos naturais e a vida vai ficando cada vez mais banalizada. Com a velocidade alucinante e vertiginosa das mudanças, cresce a incapacidade de acompanhá-las; as gerações se tornam de curta duração, numa crescente sucessão e alternância justaposta de estilos psicoculturais e geracionais. Enfim, com transições de produtos, de objetos e de significados, instauramos uma profunda crise de identidade civilizatória. Quem somos? Que sentido faz a vida? Por que lutamos tanto? Para que o heroísmo, diante de tão sedutores convites ao conforto social e humano?
Diante de um tempo de mudanças, haverá questões perenes a serem reconhecidas? Sim, a pergunta ‘quem sou?’ e o conflito entre o bem e o mal continuam problemas que subsistem às mudanças. Após tantas e tão velozes mudanças, somos melhores do que foram nossos pais e avós? Ao que parece, o problema do mal persiste como recorrência de ‘eterno retorno’. A ‘drogadição’, a violência, a exploração aos mais frágeis, os conflitos, a competição enlouquecida, tudo isso revela que os problemas da ética não foram resolvidos; apenas têm mudado de forma e se deslocado para as situações e condições atuais. A imprensa, filha desse tempo de mudanças, é a expressão mais dramática dessa condição. Todos os dias, ela leva ao grande público acontecimentos novos, mas que são antigos problemas sob novas feições. Assim sobrevive a comunicação, com o paradoxo da novidade que traz consigo sempre as mesmas questões éticas de fundo.
O que deve mudar para não se incorrer no risco do enrijecimento inflexível que sufoca e que mata? Quais fundamentos, paradigmas, princípios e valores devem permanecer para sustentar o edifício civilizatório e as possibilidades da convivência? Só no exercício da sabedoria é possível encontrar resposta a tais questões, feitas nas origens de nossa concepção civilizatória e que constituem a história (não a historiografia) da filosofia.
Tal como as águas do rio em permanente correnteza e mudança, Heráclito refletiu sobre o ‘devir’ e Parmênides se perguntou pelo ‘ser’. Se a correnteza leva as águas e traz novas águas, é sempre o mesmo rio em que me banho? Ou a cada rio são diferentes águas e diferente rio? A pergunta pelo rio e suas águas quer ser uma interrogação sobre a identidade das coisas e do mundo sujeitos às mudanças. Platão criou o dualismo corpo e alma, porque desejou encontrar uma natureza imortal ou um princípio perene na realidade do corpo que se transforma. Permaneço sempre ‘eu’ no meu corpo de criança, de adulto e de idoso? Aristóteles estabeleceu na substância o que é perene e no ‘acidental’ o que muda na matéria. E com o hilemorfismo, a unidade entre matéria e forma, estabeleceu uma possibilidade de identidade na realidade mutável. Ser e vir-a-ser, substância e acidente, matéria e forma, palavras e ideias gregas tão distantes e estranhas para inteligências pós-modernas! São esforços filosóficos primordiais para o discernimento sobre o que deve permanecer numa vida que é estruturalmente mutável e mutante.
Situados num tempo de profundas mudanças psicoculturais e sociais, fazemos certa experiência de niilismo, de imensos vazios de sentido, de relativismo, de itinerários anárquicos, de vidas sem rumo, de retrocessos da consciência que levam às experiências de barbárie. Todavia, para além de todo esse “pessimismo da razão”, é preciso se imporem o “otimismo da vontade”, a ordem da esperança utópica, a ternura para o bem e a busca da verdade.
Como viajantes do futuro, será humanamente perigoso se instaurarmos uma orientação confusa no tempo. Teríamos a consequência de uma história sem direção, uma vida sem conclusão, um amor sem porquês, um trabalho sem causas. Aos que têm a missão e a responsabilidade de educar e de comunicar, há tarefas muito precisas a cumprir. Num tempo de instabilidade dos paradigmas e dos princípios (identidade homem-mulher, identidade sobre o que constitui uma família, limites entre o certo e o errado, anulação do senso de responsabilidade, sobreposição do ter ao ser) impõe-se a exigência de construir e orientar para a formação de identidades, abertas ao diálogo. Também é preciso fazer uma correta articulação entre a verdade (sobretudo a verdade resultante da investigação científica) e o bem (a ética). E ainda há de se evitarem o saudosismo e a fuga a um passado que já não existe; o fixismo enrijecido, sem flexão e abertura para o novo que surge das entranhas do tempo; as conveniências e metamorfoses oportunistas, disfarces que enganam e suscitam a hipocrisia; os modismos e as invencionices, submetidos aos gostos temporários e ao agrado superficial.
Num tempo de mudanças, estaremos também numa mudança dos tempos? Se assim for, nada mais oportuno e necessário que formularmos, outra vez, agora com nova linguagem, as antigas, perenes e sempre válidas interrogações que a tradição do pensamento nos deixou como herança: quem somos/ E para onde estamos indo? Só assim seremos sujeitos das mudanças, e não por elas levados.

Wolmir Amado é reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.